domingo, 23 de março de 2008

RESTRIÇÃO REAL SOBRE A ARTE

Da forma de pensar até agir. Se quisermos chegar a algum lugar com arte, ela deve ser pura. Pura, mas não no sentido bíblico.
Puro em teor. De certa forma, agir, nos parâmetros atuais torna-se complicado quando pensamos nas possibilidades que cada localidade te oferece.
Mas e o pensar? Acredito que a arte hoje passa por um problema senão o maior deles. O cumulativo causado pela falta de estrutura, de crédito, de parcerias, de fomento, etc; ainda piora quando me deparo com o ego dos artistas. E falo deles de uma forma geral, falo de nós. O artista deve parar imediatamente de pensar que pode fazer algo sozinho, com sua única vontade. Deve parar de achar que sua mente é o supra-sumo de qualquer verdade e parafrasear suas certezas em exibições públicas que não convencem nada ou ninguém além dele mesmo.
O artista contemporâneo deve entender que não existe poder transformador da arte. A arte é o algo importante mais inútil que conheço. Isso significa que não tenho convicção que me leve a entender arte como algo imprescindível a um ser humano. Não acho que ninguém dependa de arte. ARTE É PRAZER! E assim, nem todos precisam ter prazer, e nem todos querem senti-lo. As pessoas são diferentes, assim como seus desejos e suas vontades. Quando falamos em emoção estética, falamos que aquele (o espectador) sentiu algo que ele não pode explicar, ele apenas sentiu um prazer que seus sentidos o mostraram. E ele fica confortado e confortável com aquilo.
Mas arte não é subsídio incondicional ao homem, quantas pessoas nascem, vivem e morrem sem um pingo de arte nas suas vidas? Arte não tem conceito a pré-senso. Ela não é alguma coisa. Arte não se descreve em poucas linhas. Arte não é simples e nem pode ser simplificada. Arte é prazer, mas não é uma terapia. Arte não é uma bobagem comercial, mas deve ser vendida em nosso sistema. Arte é um mercado de trabalho, mas não é uma operação burocrática. Arte é uma arte. Arte é um dilema. Arte não é nada e é tudo. Arte é um lema. Arte é apenas arte. E dessa forma não classifico cada tipo, linguagem da arte. E ela apenas revela conceitos dela. Que criou por intermédio do tempo e pela história.
Estou tentando escrever sobre o que tem me afetado nos últimos tempos, que é a incrível determinação do artista contemporâneo em achar que ele tem algum poder. Que ele pode fazer algo pra mudar o mundo, ora, isso não se trata de uma ONG, de uma OS. Estamos falando de artistas, de pessoas que atendem às suas vontades e representam seus anseios em objetos de arte, sejam eles quais forem: um livro, um quadro, um espetáculo, uma coreografia, etc; e que estes artistas pensam que suas obras vão mudar aquele indivíduo que apenas deve sentir prazer, e que apenas deseja isso.
Francamente, acho que os artistas voltaram-se às suas redomas virtuais, causadas pela sua grande e virtuosa criatividade e impedem que informações do mundo real cheguem até eles. E isso tudo tem muito haver com o que a arte tem dito e tem sido hoje em dia, por isso não tem sido cuidada, por isso não temos espaços, não temos estruturas dignas, por isso não temos organização. Porque o artista não trabalha mais para o deleite do público, para que eles (público) os odeie ou os ame. O artista trabalha para si. E para que ele possa “mudar” o mundo, porque ele se considera brilhante. Porque ele é um mutante cinematográfico, capaz de implantar desejo pela arte sem ser pelo prazer, sem cogitar juízo de valor.
Ignorando o senso crítico do espectador temos artistas contra artistas numa supressão da razão, na busca incessante da disputa pelo controle das mentes que jocosamente deverão seguir ou repensar a vida porque há um mestre escrevendo e dirigindo algumas coordenadas cênicas. Enquanto esses artistas entendem que teatro é uma maneira de consertar o mundo e o que está a sua volta, o público se cansa de anedotas chatas e sem tempero, e não consome arte. E outros artistas ainda dizem que o outro está errado, como se fosse de seu mérito julgar e fazer valer alguma restrição real sobre aquilo, repetindo a mesma bobagem “pseudoartística”. Acho que há um equívoco muito grande com meus colegas de trabalho e talvez comigo, acredito que vivemos num marasmo poético, numa míngua sem precedentes... Acredito que está tudo errado! Enquanto temos que entreter e agradar o público, enquanto temos que cuidar do lazer, do prazer das pessoas, estamos preocupados em causar coisas nelas que não depende de nós e do nosso trabalho, e não é nosso dever nem nossa salvação.
O teatro e todas as artes sofrem uma crise, e digo que tomemos cuidado. Se continuarmos assim a arte não existirá mais para o prazer e desfrute, a arte será um fardo jocoso e antipático. A arte será absolutamente esquecida, pois não sentirão mais o prazer, sua função, nela. –

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