segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CHOQUE

Ao sair de uma boite na sexta feira em Vila Velha, por volta das 4:30 da manhã, alguém me chama na rua pelo nome. Eu atendi. Olhei e foi quando dei de cara com a Carla, uma menina que em minha memória era alegre, meio louca, baixinha e gordinha... Com a qual tive contato durante o ano de 2002 na Escola de Teatro e Dança FAFI.

Ela me abordou e primeiro me pediu um cigarro, que eu dei, ela estava realmente muito magra, com a pele bastante deteriorada e com os dentes cinzas e corroídos, como se fossem vários caninos.
Fiquei bem assustado, quando logo apareceu um moço de aparência também bastante degradada que ela apresentara como o Marido. Então, começou a conversar tentando forçar uma certa naturalidade, me perguntou se eu ainda trabalhava com teatro etc. A convidei para ir ao Teatro ver a minha peça e logo disse que não tinha dinheiro...
Tentei explicar onde seria a sessão mas ela não se lembrava onde ficava o Carlos Gomes! Muito embora na época que a conheci, e que conheci sua família e sua casa, chegamos ir juntos ao mesmo Theatro, e ela fosse quase vizinha do prédio.
Foi então que ela finalmente se colocou como moradora de rua e usuária de drogas, mas não em assumir o fato, mas pela mudança de comportamento e discurso. Ela não estava guardando carros, pois havia outros lá já fazendo isso, ela estava simplesmente sentada na rua, quando me chamou.

Me pediu um real, e eu dei. Falei pra ela ficar com Deus e tomar cuidado, e fui pro carro, me seguiu e antes de abrir a porta ela me pediu mais três reais já com o discurso totalmente diferente, já com aquele tom intimidador de morador de rua, insinuando que eu estaria "todo rico" (indicando minha roupa) e que eu teria mais dinheiro para dar a ela; apontou para meu bolso, "tem mais dinheiro aí" disse. Desconversei , perguntei pra que ela queria o dinheiro e me disse que ela não sabia sobre o marido, mas que ela queria comer alguma coisa...
Não consegui negar os três reais.
Fui embora, com uma sensação horrível, realmente acabado... Obviamente pelo estado de degradação em que se encontra suponho que hoje deva consumir crack, como muitos aí pelas ruas. Principalmente pela localidade que estava, as roupas e o modo muito peculiar.
É claro que meu desabafo pode ser muito particular, os que conheceram aquela jovem, e com quem posso dividir essa história.

Eu fiquei tão triste, tão chateado, sabe? Nunca passei por uma situação dessas, nunca tive um choque de realidade tão impactante e que levasse realmente a uma tristeza sem paradeiro, de um problema que até primeiro momento não é meu.

Infelizmente a única coisa que podemos fazer é lamentar e rezar para que ela tenha paz em seus dias.

Nenhum comentário: