sexta-feira, 23 de abril de 2010

1.2 ENSAIO - PANORAMA ATUAL DO TEATRO CAPIXABA


De certo, vão pensar: quem é ele para falar disso. Bom a única coisa que posso responder é: preciso dar vazão aos meus sentimentos, esvaziar o conteúdo apreendido ao longo desse período encubatório ao qual me submeto para tentar atingir um melhor nível de trabalho.

Temos no Espírito Santo hoje certa ineficiência no ramo teatral. Que por ventura posso eu também participar dele, o que justifica talvez a minha escrita neste momento. Analisado algumas montagens locais de 2009 e deste principiante ano de 2010, comprovo-me que talvez eu esteja falando da coisa certa no momento certo.

Tenho visto modernismo. É isso o teatro realizado no ES é moderno, acredito que não acompanhou diversos processos histórico-artísticos que outras partes do país obtiveram. Isso em que trato? Por exemplo, a década de 60, 70 e 80 no estado, pelo que me contam e pelo que li, passou por uma efervescência. Diversos nomes foram lançados, gente que talvez tenha passado períodos em capitais culturais e tiveram a chance de se aperfeiçoar com mais cautela, perícia.

Na maioria das vezes vou ao teatro com o peito aberto e uma coisa é inegável, o teatro daqui tem ficado mais diverso. Há muita coisa distinta, uma da outra, sendo realizada. O que não acontecia há 5 anos atrás.

Fica complicado citar nomes, de pessoas, grupos e companhias. Vou pelas classes. Dia desses vi uma peça, em que cenograficamente cometeram o que não deveriam, baseando-se na experiência do grupo. Um painel imóvel, colocado atrás das atrizes, iluminado, estático, dialogando com nada, conversando sozinho, enquanto as atrizes propunham um texto falando da condição da mulher. Pergunto-me, esse discurso já não vimos, ou é minha impressão? Tratar de uma conversa batida e de certa forma oitentista? Fui ao teatro depois, assistir a um espetáculo de uma amiga, tão bem nomeado e divulgado. Tratava-se de uma atitude teatral antiga, quase nos moldes, frise-se quase, brechtinianos, mas falida. Velha, empoeirada. Com atores de qualidade abaixo, e bem abaixo da média. Uma androgênia não provocada, ou propositada pela inexperiência dos atuantes.

Infelizmente temos muitos diretores bons, que não estão trabalhando, a maioria que converso, desistiu. Cansaram de atores que não lêem, que não estudam e que não se aprimoram. Outros cansaram de depender do Estado etc. Existe hoje pelas minhas contas, o M., o D, o L., o C.. E os novatos de cena, que voltaram, após terem estudado Artes cênicas em Ouro Preto e nada trouxeram de novo à cidade. Existe uma peça de uma garota, que é simplesmente lamentável. Pois também se trata ainda da discussão do feminino, batida, antiquada, ingênua. Outra em que a luz era o protagonista, ou o figurante da peça, trouxe uma injeção de contra ditadura após quase 25 anos do fim dela. Não lembro neste momento ter assistido alguma coisa realmente preparada para os contemporâneos. Não posso citar as desventuras do besterol local, pois esta gama sequer chega perto do que se propõe, embora um grande show de humor, e executam bem esta função, mas poderiam, às vezes, manter-se como um show solo do diretor, certamente a figura com mais riqueza teatral entre os outros. Há um outro moço, de figura simpatica, certamente culto, mas que realiza espetáculos alinhados com o butô, e que por fim traduz apenas uma estética, não realizando-a. Gosto do Butoh, mas não podemos apoiar um conteúdo inteiro somente naquela ou outra estética e não recriar. O que me parece certa preguiça, ou afeição pelo efeito... Somente.

Outros defensores do “bom teatro”, cultos, certamente, são capazes, inclusive de desconhecer o tratamento barroco de uma ópera, e realizar o espetáculo sem ao menos uma curva. O que é quase que impossível quando se trata desse estilo.

Ainda sim, não chegamos a nenhuma conclusão de teatro contemporâneo. Discussão do papel feminino na sociedade, ou no mundo, ditadura, ópera barroca, butoh são “coisas” (sic) que não estariam alinhadas com o teatro contemporâneo, não da minha época. Embora o uso do butoh, seja o que mais se aproxime de um uso de carpintaria para realização, pesquisa de linguagem. Porém ele por fim, neste caso, acabou não sendo a fonte, mas o piso e paredes.

Não gosto de causar polêmica e se causar aqui no meu blog, que pouquíssima dente lê, retiro esse texto. Porém, fique claro, eu não discrimino também nenhuma manifestação teatral, as analiso e escolho o que quero pra mim, para me lembrar. Não quero parecer arrogante, muito menos conhecedor dos sete mares, falo obviamente da minha opinião, que pode, e deve, talvez, divergir das demais.

Hoje, sinceramente, não consigo lembrar-me de uma peça realmente boa, que me fez pensar em voltar a assistir aquela companhia, ou artista, não consigo visualizar agora, uma referência para que eu volte ao teatro, e frua. Com intensidade. Ou sem ela também. Certo, tem um Grupo, com uma letra só no nome, que gosto. Mas acho careta. Acho também antigo, a não ser quando se aventuram na dança.

Não me recordo de ter visto uma peça e ter abandonado a sala, e pensar: “amanhã quero voltar pra ver novamente”. Não me lembro qual foi a última vez que não fui ao bar e fiquei quieto para não ser desagradável e dizer sinceramente que eu não achei graça, que eu não gostei, que aquilo não me toca, não me choca, não me toma.

Acredito que das cerca de 18 peças que estrearam desde o início de 2009 na Grande Vitória, nenhuma delas tinha um trato realmente para comunicar-se aos seus de mesma época, com uma estética diferenciada, pronta, preparada, destrinchada e despachada. Leve e nova, fresca. Nada que seja interessante. Apenas cumprimento do certame, uma parada obrigatória, certamente uma escolha frágil.


POR HOJE É SÓ!

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