sexta-feira, 23 de abril de 2010

1.1 PANORAMA ATUAL DO TEATRO CAPIXABA


A complicada realidade da cena contemporânea teatral mistura-se a toda gama dos gêneros artísticos e perpassa pelos mesmos problemas na maior parte do globo: descontinuidade, falta de organismos de formação, escassez de contempladores, produtores e artistas, perda de credibilidade junto a sociedade, aniquilação pelos meios de entretenimento instantâneo e a distância, dependência do Estado etc.

Para os artistas e técnicos a melhor maneira para a apreensão de conhecimentos específicos se dá por meio da vivência verdadeira e absoluta com suas ferramentas e espaços, mesmo que inserida ou não na formação acadêmica do indivíduo ou grupo. Entretanto, especialmente na Grande Vitória é possível afirmar que os locais de ensaio, por exemplo, geralmente tratam-se de salões de festas, salas improvisadas em academias de ginástica, espaços abertos, gramados, tendo apenas o ensaio geral, horas antes da primeira apresentação pública, para a averiguações do resultado (ou conclusões) de seus projetos cênicos de iluminação, cenografia e figurinos.

O Estado do Espírito Santo dispõe de poucos equipamentos culturais em todas às áreas. A arte cênica não é diferente. Espalham-se por todo interior do estado 12 salas de teatro em funcionamento, e na Grande Vitória temos o Theatro Carlos Gomes sob administração pública estadual (R$ 400,00/dia), os municipais de Vila Velha (em estado de abandono) e de Viana, que está localizado a duas horas da capital por transporte coletivo; o Teatro Universitário (R$ 800,00/dia) administrado pela Secretaria de Difusão Cultural da UFES. De administração privada temos o Teatro do SESI (R$ 500,00/dia); Teatro Galpão – sem urdidura, ar-condicionado, coxias e camarim – (R$ 300,00/dia) e Teatro Marista – sem urdidura e com pé direito simples - (R$ 500,00/dia) localizado em Vila Velha. Todos estes espaços, não permitem o armazenamento de cenário e equipamentos das produções nos depósitos dos teatros, e o Theatro Carlos Gomes executa locação apenas de até três dias seguidos, pois é utilizado como casa permanente da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo e Projetos Institucionais.

Muito embora, estes espaços beneficiem a qualidade de vida da população e o fomento das artes cênicas; a realidade para o mercado teatral é pouco atrativa. Os aluguéis são caros, e ainda possuem inúmeras restrições quanto ao fazer teatral na cidade, como a impossibilidade de temporadas médias e longas, ensaios, depósito para material cênico e de montagem entre outras. Nesse sentido, Yan Michalski (1998, p.17) pontua:

[...] o teatro a exemplo talvez da música, mas bem mais que a literatura ou a pintura, é totalmente escravo de sua infra-estrutura material. Falar em encenação é sustentar um discurso que tem pelo menos tanto a ver com aspectos econômicos, políticos quanto com a estética.

A produção teatral do estado está a cargo de artistas independentes: atores, diretores e produtores, que se unem para um único trabalho e de pouquíssimos grupos e companhias estáveis. A inovação no fazer, em linguagem, direcionamento e estética, está ligada também nessa realidade ao “teatro de grupo”. Segundo José Renato Pécora, fundador do Teatro de Arena em São Paulo, em entrevista a esse trabalho no mês de setembro de 2009, o teatro de grupo trata-se do cerne das vanguardas:

"Assim, de estalo, o que posso dizer é que considero da maior importância o desenvolvimento de uma equipe; acho que o trabalho dos grupos no Brasil é a mais séria transformação que o nosso teatro está conseguindo. O grupo desenvolve uma linguagem comum, um pensamento uníssono, uma formação equilibrada que é fundamental para a sua própria existência. Existindo no grupo uma liderança equilibrada, inteligente, que permita o debate livre e criativo entre seus membros, e que o grupo possa exercer a sua pesquisa sem a pressão de prazos comerciais, buscando seus resultados, com equilíbrio, bom senso e bom humor, estará, sem dúvida, no rumo certo. Acho que será importante também, encontrar um denominador comum no terreno da ideologia, e da filosofia. Refletirem todos juntos sobre o que está acontecendo com o país, com sua cidade, com seu entorno, e, principalmente, discutirem o desenvolvimento educacional e cultural onde estão inseridos. A busca de repertório será uma simples conseqüência desse caminho."


Os dispositivos de formação, sejam eles da iniciativa pública ou privada, não oferecem graduação ou especialização na área Teatral. Grande parte dos atuantes em teatro, não possui formação tradicional específica deixando com que a experiência prática se encarregue de tal e o SATED – Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões ateste a capacitação destes futuros profissionais. Todavia, essa falta de conhecimento adquirido em uma universidade ou escola, pode ser suprida, em parte, em cursos que supõe-se afins como os cursos das outras áreas artísticas e os de humanas aliado ao conhecimento adquirido na prática.

• Trecho de “BOULEVARD,83 – A CRIAÇÃO DE UM ESPETÁCULO TEATRAL” Trabalho de Conclusão de Curso em Artes Plásticas, de Leandro Bacellar, apresentado em 11 de dezembro de 2009 no Centro de Artes – UFES.

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