sábado, 8 de dezembro de 2012

today



Há pouco tempo eu estava conversando com um amigo sobre continuar a fazer teatro. E ele me disse com pouco pesar, satisfeito, que não iria mais continuar. Ele que tem uma longa e preciosa carreira, lembrado pelos seus feitos em sua praça. Disse que não continuaria porque não havia mais porque nem pra quem.
Grandes questões levantadas numa pequena conversa ao telefone. De fato, fazer teatro no século XXI deve corresponder automaticamente a essa questão: pra quem?
Quem é esse público ávido por uma arte milenar que atravessou dois mil e quinhentos anos? Quem é essa gente que deseja teatro? O que esse povo deseja? Se são nossos colegas, porque nos pressionam tanto para que seus gostos sejam priorizados? Fiquei reflexivo quanto ao questionamento, pois eu não sei se sou capaz de desenvolver uma solução para a questão. Afinal, faço teatro para quem? Meu público em Vitória, é jovem. Acostumado a uma serie de divertimentos, onde o teatro é um extra, um bônus social, uma espécie de primo pobre do cinema.  Tem os amigos, que são grande parte. Totalmente parciais, clamam por risadas, por mulheres bonitas no palco, por obras espetaculares.  Ainda é incrível que os amigos, quando artistas querem uma obra completamente diferente da anterior, descoordenada da sua linguagem artística definida por você ao longo do trabalho, em processo de construção, talvez eu nem saiba qual é ela ainda. Quem são as outras pessoas, admiro muito o público esporádico, que vai assistir somente o que lhe convém, quando, pode e quando há estacionamento. Admiro porque ele é misterioso, segue a orientação de sei lá o que e comparece à sala para uma exibição de qualquer coisa ao vivo.
 O grande porém é que esta massa é pequena. Ela não comparece aos montes, porque o teatro para elas não é mais interessante. As apresentações lotam algumas vezes, geralmente no início da temporada ou  no fim, e quase sempre quando a entrada é franca.
O questionamento do meu amigo é muito válido, enfrentar meses de ensaio, perrengues de toda a ordem e no fim, quem verá o resultado daquilo? Quantitativamente e qualitativamente? Pra quem dedicar um pedaço do que você acredita, senão para você mesmo? Pra quem enfrentar as duras críticas, as fofocas, os desentendimentos, as brigas e os amores? Que orgulho é esse que nos leva dar o nosso ponto de vista sobre algo, para ninguém , ou para poucas pessoas. Sempre digo que o teatro passa por uma crise. E ele passa mesmo. Nesses dez anos de trabalho me sinto um resistente desejando que minha plateia não fique vazia. Desejando que algum órgão me financie. Desejando que no próximo a perda financeira seja pelo menos recompensada por uma boa exposição midiática. Afinal qual é o propósito de exibir um trabalho em que a plateia é fator determinante, uma vez que esta prefere os gladiadores em ringue octogonal pela TV.
É assustador pensar que o teatro evoluiu até chegar ao linchamento de sua viabilidade econômica.
Não é possível o retorno de bilheteria, fazemos teatro para continuarmos fazendo. É o que nos move eu acho. É não parar. É não desistir.
Então porque? Acho que essa inquietação que estou tendo hoje, faz parte de uma série de inquietações de 2012 em que não consegui pauta para trabalhar. Para difundir o meu trabalho, para poder cobrar ingressos, e de todos os editais que participei sei , talvez, que na maioria outros grupos poderiam ter trabalhos bem mais relevantes.  Mas o que é relevante aqui? O que faz o teatro ser relevante? É a visão do artista proponente? Ou é a plateia? O interesse do público não seria o que define a importância da obra?
Eu estou em crise, comigo, com o teatro, com a arte. Com a profusão de conhecimentos e desconhecimentos, estou numa crise boa, de aprendizado, onde o novo está sendo surpreendente. Onde conhecer pessoas novas está me ajudando a abandonar lentamente o passado e me apegar a um futuro de esperança. De que coisas boas e novas estão a caminho. De que é possível fazer algo pelo que eu acredito, e para quem eu acredito que vá gostar, para os que eu suponho que vão compreender alguma coisa das imagens que eu quero exprimir.
Uma crise que me faz refletir todos os dias sobre o meu papel nisso tudo, que dita a importância que eu quero ter, que o meu grupo deve ter, a importância de ter um trabalho corente com a minha pesquisa , com o meu entendimento sobre a arte. Não só a contemporânea. Ou com o que estamos tentando fazer dela.
Mas que essa arte do nosso tempo, seja feliz, seja boa. E que tenha alguém para assisti-la.

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