Definição? Não. Na verdade
é pela falta de definição que às vezes pode exceder qualquer que seja o limite.
Tenho a impressão que estamos tão acostumados com a profusão das imagens nesse
século, que não conseguimos compreender a importância imediata de outras características
que não o discurso pela imagem. Acho importante a imagem falar, dizer o que é
indizível. Todavia às vezes, somente o balanço entre fala e silêncio podem
resolver – mas não totalizar - uma obra que se queira chamar de teatral. Teatral
no termo mais cheio e mais comprometido de passado possível. Porque eu sei e vós
sabeis que o teatro tudo cabe e pode quase tudo, com exceção do que o outro faz
(Vos saúdo por isso). E quando só o texto pode dizer? Quando só os imbróglios,
os golpes, as texturas, os quiproquós, os melodramas, os chistes, podem
resolver? E quando somente e tão somente o brique-braque, o tic e tac de um
relógio adiantado pelo porvir/ ou suspense / podem resgatar uma cena do limbo e
movê-la para uma fruição de lamber os beiços do ouvido? E quando a
interpretação de dois atores, ou vá lá, vinte, colocam você em xeque. Te colocam
na mão deles, sem nenhuma imagem. Sem nada. Sem nenhuma imagem em movimento
provocada num suporte, mesmo que ele seja rudimentar e não tecnológico.*** Nos
mataremos com a imagem de um revolver, uma escultura, um inundamento (sic) bem
justificado teoricamente de imagens psico-analisadas e neuro-simbólicas
artisticamente selecionadas/criadas/ chovendo de telas “plasmóides” ou
projetadas em paredes cinzas – para não atrapalhar a luz? Ou vamos passar três
meses numa sala, classificando, juntando, equalizando e fumando escondido para
significar algo que já está escrito em diálogo? Ou que não está em palavras, entretanto
na aura. *** Isso não é questão.
Sem discussão “julgamentosa”, maniqueísta
e muito menos pormenorizada. Acredito que em algum momento da criação da nossa
obra devemos temperar isso, transformar|construir| a cena num jogo
multifacetado entre o que se vê, o que se ouve, e o que é construído
esteticamente, filosoficamente, imageticamente. Onde está o mentir? O farsear?
Intenção – fazer fruir|sentir. De fato, talvez tenhamos imperativamente ou por
um descuido propositado tudo o que sempre foi, desde os primórdios, com escapadelas
costumeiras, corruptelas escorregadias, transgressões e ousadias outras aqui e
ali. Bem sucedidas ou não bem quistas. A problemática do teatro é essa, enquanto
ele for feito, ele é teatro. Enquanto não o neguem, - afirmativa tão óbvia-. Faz
doer. Mas eu esqueço também, que na
tentativa de ultrapassar as barreiras do que o passado deixou fronteiriço, fica
ali, o teatro, perdido, em cima de um muro largo e às vezes, somente às vezes
sem reboco, o teatro fica querendo aparecer, pular do muro, aqui e ali, e às
vezes, ele some. Ou dorme. “Mudifica-se” entre um bloco e outro. Porém, ele – o
teatro- pode ficar vívido em imagens que às vezes, às vezes, somente às vezes? Podem
não dizer nada. Aperte o “jogo” após o terceiro sinal.