Texto que será veiculado no programa impresso do próximo espetáculo do Grupo Teatro Empório:
Indago-me todos os dias, e me pergunto aonde quero chegar com isso. Ou aonde talvez, aonde esses textos chegarão.
É claro que a idéia de escrever teatro, não foi um chamado divino. Quem me dera se o fosse. Traduzir em palavras as contradições, perversidades, bondades, paixões e tudo mais dos homens, produz certo efeito alucinógeno em mim.
Às vezes me pego me perguntando o porquê de sentar no computador e acreditar que pudesse escrever algo que fosse encenado, que pudesse chegar aos olhos, ouvidos e fruição do espectador, e que da minha verborragia oculta, e desvelada pelos atores pudesse causar um mínimo de reflexão. Surpreendo-me com as respostas, pois eu como todos, acredito, estou em formação. Numa certa crítica direcionada a mim, claro que com certo deboche, escreveram que um dia, com muito, muito estudo eu poderia chegar a ser um “bom “autor teatral”. E concordo. Com certeza, estar a altura do Laboratório de Textos, edital motivador para esse novo espetáculo sair do papel, com dois diretores fascinantes e um autor dois mais inteligentes é realmente uma empreitada faraônica. E o requinte intelectual que isso pode gerar é megalomânico (sic), e de uma loucura tal. Certamente dei sorte.
Comecei a escrever, pelo que entendo, para sanar minhas necessidades de realizar minhas secretas fantasias, desejos, opções, e mentiras. Dou vida as minhas mentiras. Aliás dou páginas. Mas por conseguinte dou vidas, não é? A fábula, fantasia, história, narrativa, sugere que eu poderia facilmente ter vontade de ter vivido aquilo, estado ali, e realmente estive. Durante o tempo da escrita me coloquei ali, pensei e agi imaginando e vivendo aquela ação mentalmente. E fui autor. Ali. E ainda sim, penso que para que haja um mundo em que eu me encaixe as pessoas realmente gostam disso, de ver outras pessoas vivendo a fantasia de outros, mentindo descaradamente durante horas, ali, no palco. Lugar certamente da mentira. Mas a mentira está em todo o lugar, na cegonha, no coelho da páscoa, no papai noel. Então seríamos todos atores? Claro que não. Executar um trabalho de interpretação requer um alto custo, um dispendioso e brilhante gasto de energia, um estudo sem fim. Uma procura das mais vis que podem existir. Dramaturgo e ator se desejam, sem saber, talvez, mas são almas gêmeas. O ator é o elemento chave do meu trabalho, ele é a finalidade às vezes de uma vírgula, de um registro vigoroso entre parênteses, ele é o segredo do cofre.
O teatro certamente é a arte mais difundida de todas, pois ela é intrínseca do homem. Ele tem atitude teatral na alma. O que nós, artistas teatrais fazemos, é nos aproveitarmos disso e potencializar.
E eu, no meu “gabinete” o que eu faço? Eu invento? Invento pessoas, atmosferas, pesadelos, fantasmas, conversas, mentiras, verdades, planos, roupas, lugares, sol, lua, chuva. Invento calor intenso, chuvas do sul, nordeste e sudoeste, invento sapatos que existem, que não existem invento choros tímidos, choros velados, gargalhadas simbólicas. Rubrico. Mas não invento. Sou então um aproveitador. Retiro minha fala anterior, eu não invento nada. Eu copio. Sou copiador, uma máquina de xérox ambulante, uma impressora lenta que reproduz o que vê, o que sente, o que vive, o que ouve, o que lê. Talvez um catalisador, um escolhedor, um degustador de vaidades. Sou um déspota malvado e ladrão de expressões, mazelas e dores terríveis. Coloco seres em posições que não estão suando, mas devem suar, devem odiar seus amigos, seus inimigos devem amar. Faço e desfaço qualquer trabalho em sete dias. Serei eu um bruxo? Ainda confirmo minha arte da imitação. Imito, copio, roubo. Ladrão eu sou. Reitero, copio. Meus amigos, meus chefes, meus mestres, meus alunos, meus atores, meus pais. Meus amores curtos e maciços, os leves e duradouros, as paixões burras e os estúpidos encontros casuais. A minha própria verborragia é impressa às vezes, nem eu me respeito, roubo coisas até de mim.
Acumulo sim as duas funções, dirijo e atuo, e o pior ainda escrevo: se houvesse crítica teatral respeitada nesse Estado ela certamente acharia isso uma infâmia. Mas faço. Executo infamemente o meu trabalho. Meu amigo Renato Saudino me disse uma vez que eu estava funcionando bem no palco porque o ator entendeu perfeitamente o que o diretor falava. Pois bem, ele respondeu uma das minhas maiores dúvidas, o grande mistério que me rondou desde o início, por que eu devo dirigir o que eu escrevo? E por fim dirigir a mim? Com calma. Primeiro, eu suponho que nenhum diretor, que não seja eu, queira dirigir meus textos. Segundo, tenho o grupo, fundado por mim, Thiago Rizzo, Luana Eva, Danielle Pansini e Josimar Teixeira, este grupo precisa ser abastecido, e de uma forma que não onere, pagar direito autoral é uma realidade que respeitosamente cumpriremos quando houver essa escolha. Terceiro eu sou ator, preciso trabalhar, nunca houve convite para tal, na minha idade adulta. Dirijo porque escrevi, atuo porque o diretor me convida. Comecei assim, aliás, eu acabei de começar. De verdade. Não posso de forma alguma comparar as minhas escolhas a alguém com bagagem, experiência e trato com os piores e melhores atores. É indiscutível.
Teatro é uma arte da paixão, e como apaixonado que sou defendo. Meu amor, minha posse. Sou ciumento. Muita gente torce o nariz, mas por quê? Estamos começando a nossa história agora, mas já é alguma. Claro que de todo jeito enfrentaremos tudo que os artistas experientes já enfrentaram, que bom. Isso é o que deve acontecer se continuarmos nessa corda bamba eterna. Pois queremos ser experientes um dia, e defensores do “bom teatro” e fazer parte dele. E não só defendermos de longe, sem nos arriscarmos, ousarmos. Quero mentir mais pra todo mundo. Com prazer, bom humor. Respondendo a uma inevitável pergunta, sim eu gosto de mentir, gosto da mentira, ela me devora e eu deixo, permito, nós, eu e a mentira, temos um caso de amor intenso, horroroso, é lindo. Quero chegar a um ponto que acreditem na nossa mentira.
Sou um incentivador do teatro. Aposto em todas as iniciativas, dos estreantes, dos catedráticos, românticos, picaretas, dos plagiadores, dos metidos, dos pobres e ricos, dos loucos que se drogam para criar, que nem são tão loucos assim, só vão pelo caminho que mais lhe revelam coisas. De fato, a encenação do meu primeiro texto era lastimável. E o segundo nenhuma primazia, o terceiro tem suas falhas e esse aqui também terá. Isso eu tenho certeza. Apesar de brincar de deus no papel, eu sou um humano e falho, como todos. Ainda procuro a criação de uma jóia, talvez essa seja a razão de persistir...
Acredito que todo artista procura criar uma jóia. E nosso caso particular, o do teatro. Queremos certamente lapidar uma pedra em estado bruto, queremos dissecar este animal que não conhecemos. Talvez esse animal deva se chamar “texto”. E o que é essa jóia no teatro? – Obviamente um texto primoroso não significa uma direção perfeita - O que estamos procurando, seja no italiano, espaço aberto, alternativo. Quem é o classificador do brilho do diamante? O quilate do ouro, aqui, no palco, quem define? Seria o crítico? O público? O leigo? O sabido? Seria eu um ourives? Lembro ainda, meu caro leitor e espectador, que você seja o que determina a raridade do meu rubi, impresso e datado, aqui neste palco. É o senhor, senhora, moço, moça, quem pode definir se vale a pena ou não para ti. É você quem vai para casa pensar ou não nisso tudo, nisso tudo que quis falar a você. É a sua perspicácia que irá, talvez, lhe fazer dar o valor que espero obter na minha obra, na minha pulseira cravejada de pedras falsas, e que somente você poderá validá-las. Me incomodo apenas com a perda da humildade, ou a inexistência dela. Teríamos de admitir tudo, porque quando não temos teatro, não o temos. É a única coisa que podemos ter certeza.
Não sei ainda se estou no lugar certo, não sei se nasci pra escrever, claro que não, eu nasci pra ser rico como todo mundo. Mas escolhi isso, não sei por que, não sei da onde, não sei quem me fez assim, não foram meus pais, eles queriam que eu tivesse uma vida mais fácil, sem sofrimento, sem noite perdida em frente ao computador, com finais de semana em família. Queriam que eu não fosse viciado em café, cigarro, até a cerveja do fim de semana os incomoda as vezes. O que mais me falam é: - Você deveria parar de sofrer tanto, ninguém vai perceber se você fizer assim ou assado... Será que eles possuem razão? Certamente não foi o teatro quem me escolheu, eu escolhi cada uma das minhas mazelas. Gosto delas.
Para escrever... Para fazer teatro... Eu estudo muito, estudo as pessoas, o que elas falam, estudo seus gestos, creio em suas histórias. Estudo teoria, do Teatro e da Arte. Leio filosofia, contos, sonetos e poemas. Crônicas belas e outras das mais absurdas. Procuro me conhecer, confesso que uma das tarefas mais difíceis. Me politizo. Converso com sábios. Leio. Compro livros ao invés de ir pra micareta. Então já sei pelo menos que não sou micareteiro, mas o que não me impossibilita de escrever sobre um, claro se a história dele foi boa, pois são milhares os que se gabam por terem beijado outras milhares em seus encontros baianos. Sou preconceituoso. Me apaixono por tipos, por alguns deles em especial, sou um pouco adepto a sexo eloqüente, tenho minhas preferências musicais duvidosas para os eruditos, gosto de ir ao museu e carregar um guardanapo com a Monalisa estampada, compro dvd pirata, furaria meus olhos se tivesse feito filhos em minha mãe, comeria terra se passasse fome, mataria uma velha para dela roubar água. Seria eu então um copiador, ladrão, preconceituoso, assassino, ourives, mentiroso, ninfo, incestuoso, déspota, pérfido, apaixonado, amante, micareteiro, burro? Prefiro pensar que sou um possibilitador, de tudo isso, de mostrar às pessoas esse mundo cheio de histórias, para fruírem e acreditar na mentira, minha e do Grupo Teatro Empório.
Indago-me todos os dias, e me pergunto aonde quero chegar com isso. Ou aonde talvez, aonde esses textos chegarão.
É claro que a idéia de escrever teatro, não foi um chamado divino. Quem me dera se o fosse. Traduzir em palavras as contradições, perversidades, bondades, paixões e tudo mais dos homens, produz certo efeito alucinógeno em mim.
Às vezes me pego me perguntando o porquê de sentar no computador e acreditar que pudesse escrever algo que fosse encenado, que pudesse chegar aos olhos, ouvidos e fruição do espectador, e que da minha verborragia oculta, e desvelada pelos atores pudesse causar um mínimo de reflexão. Surpreendo-me com as respostas, pois eu como todos, acredito, estou em formação. Numa certa crítica direcionada a mim, claro que com certo deboche, escreveram que um dia, com muito, muito estudo eu poderia chegar a ser um “bom “autor teatral”. E concordo. Com certeza, estar a altura do Laboratório de Textos, edital motivador para esse novo espetáculo sair do papel, com dois diretores fascinantes e um autor dois mais inteligentes é realmente uma empreitada faraônica. E o requinte intelectual que isso pode gerar é megalomânico (sic), e de uma loucura tal. Certamente dei sorte.
Comecei a escrever, pelo que entendo, para sanar minhas necessidades de realizar minhas secretas fantasias, desejos, opções, e mentiras. Dou vida as minhas mentiras. Aliás dou páginas. Mas por conseguinte dou vidas, não é? A fábula, fantasia, história, narrativa, sugere que eu poderia facilmente ter vontade de ter vivido aquilo, estado ali, e realmente estive. Durante o tempo da escrita me coloquei ali, pensei e agi imaginando e vivendo aquela ação mentalmente. E fui autor. Ali. E ainda sim, penso que para que haja um mundo em que eu me encaixe as pessoas realmente gostam disso, de ver outras pessoas vivendo a fantasia de outros, mentindo descaradamente durante horas, ali, no palco. Lugar certamente da mentira. Mas a mentira está em todo o lugar, na cegonha, no coelho da páscoa, no papai noel. Então seríamos todos atores? Claro que não. Executar um trabalho de interpretação requer um alto custo, um dispendioso e brilhante gasto de energia, um estudo sem fim. Uma procura das mais vis que podem existir. Dramaturgo e ator se desejam, sem saber, talvez, mas são almas gêmeas. O ator é o elemento chave do meu trabalho, ele é a finalidade às vezes de uma vírgula, de um registro vigoroso entre parênteses, ele é o segredo do cofre.
O teatro certamente é a arte mais difundida de todas, pois ela é intrínseca do homem. Ele tem atitude teatral na alma. O que nós, artistas teatrais fazemos, é nos aproveitarmos disso e potencializar.
E eu, no meu “gabinete” o que eu faço? Eu invento? Invento pessoas, atmosferas, pesadelos, fantasmas, conversas, mentiras, verdades, planos, roupas, lugares, sol, lua, chuva. Invento calor intenso, chuvas do sul, nordeste e sudoeste, invento sapatos que existem, que não existem invento choros tímidos, choros velados, gargalhadas simbólicas. Rubrico. Mas não invento. Sou então um aproveitador. Retiro minha fala anterior, eu não invento nada. Eu copio. Sou copiador, uma máquina de xérox ambulante, uma impressora lenta que reproduz o que vê, o que sente, o que vive, o que ouve, o que lê. Talvez um catalisador, um escolhedor, um degustador de vaidades. Sou um déspota malvado e ladrão de expressões, mazelas e dores terríveis. Coloco seres em posições que não estão suando, mas devem suar, devem odiar seus amigos, seus inimigos devem amar. Faço e desfaço qualquer trabalho em sete dias. Serei eu um bruxo? Ainda confirmo minha arte da imitação. Imito, copio, roubo. Ladrão eu sou. Reitero, copio. Meus amigos, meus chefes, meus mestres, meus alunos, meus atores, meus pais. Meus amores curtos e maciços, os leves e duradouros, as paixões burras e os estúpidos encontros casuais. A minha própria verborragia é impressa às vezes, nem eu me respeito, roubo coisas até de mim.
Acumulo sim as duas funções, dirijo e atuo, e o pior ainda escrevo: se houvesse crítica teatral respeitada nesse Estado ela certamente acharia isso uma infâmia. Mas faço. Executo infamemente o meu trabalho. Meu amigo Renato Saudino me disse uma vez que eu estava funcionando bem no palco porque o ator entendeu perfeitamente o que o diretor falava. Pois bem, ele respondeu uma das minhas maiores dúvidas, o grande mistério que me rondou desde o início, por que eu devo dirigir o que eu escrevo? E por fim dirigir a mim? Com calma. Primeiro, eu suponho que nenhum diretor, que não seja eu, queira dirigir meus textos. Segundo, tenho o grupo, fundado por mim, Thiago Rizzo, Luana Eva, Danielle Pansini e Josimar Teixeira, este grupo precisa ser abastecido, e de uma forma que não onere, pagar direito autoral é uma realidade que respeitosamente cumpriremos quando houver essa escolha. Terceiro eu sou ator, preciso trabalhar, nunca houve convite para tal, na minha idade adulta. Dirijo porque escrevi, atuo porque o diretor me convida. Comecei assim, aliás, eu acabei de começar. De verdade. Não posso de forma alguma comparar as minhas escolhas a alguém com bagagem, experiência e trato com os piores e melhores atores. É indiscutível.
Teatro é uma arte da paixão, e como apaixonado que sou defendo. Meu amor, minha posse. Sou ciumento. Muita gente torce o nariz, mas por quê? Estamos começando a nossa história agora, mas já é alguma. Claro que de todo jeito enfrentaremos tudo que os artistas experientes já enfrentaram, que bom. Isso é o que deve acontecer se continuarmos nessa corda bamba eterna. Pois queremos ser experientes um dia, e defensores do “bom teatro” e fazer parte dele. E não só defendermos de longe, sem nos arriscarmos, ousarmos. Quero mentir mais pra todo mundo. Com prazer, bom humor. Respondendo a uma inevitável pergunta, sim eu gosto de mentir, gosto da mentira, ela me devora e eu deixo, permito, nós, eu e a mentira, temos um caso de amor intenso, horroroso, é lindo. Quero chegar a um ponto que acreditem na nossa mentira.
Sou um incentivador do teatro. Aposto em todas as iniciativas, dos estreantes, dos catedráticos, românticos, picaretas, dos plagiadores, dos metidos, dos pobres e ricos, dos loucos que se drogam para criar, que nem são tão loucos assim, só vão pelo caminho que mais lhe revelam coisas. De fato, a encenação do meu primeiro texto era lastimável. E o segundo nenhuma primazia, o terceiro tem suas falhas e esse aqui também terá. Isso eu tenho certeza. Apesar de brincar de deus no papel, eu sou um humano e falho, como todos. Ainda procuro a criação de uma jóia, talvez essa seja a razão de persistir...
Acredito que todo artista procura criar uma jóia. E nosso caso particular, o do teatro. Queremos certamente lapidar uma pedra em estado bruto, queremos dissecar este animal que não conhecemos. Talvez esse animal deva se chamar “texto”. E o que é essa jóia no teatro? – Obviamente um texto primoroso não significa uma direção perfeita - O que estamos procurando, seja no italiano, espaço aberto, alternativo. Quem é o classificador do brilho do diamante? O quilate do ouro, aqui, no palco, quem define? Seria o crítico? O público? O leigo? O sabido? Seria eu um ourives? Lembro ainda, meu caro leitor e espectador, que você seja o que determina a raridade do meu rubi, impresso e datado, aqui neste palco. É o senhor, senhora, moço, moça, quem pode definir se vale a pena ou não para ti. É você quem vai para casa pensar ou não nisso tudo, nisso tudo que quis falar a você. É a sua perspicácia que irá, talvez, lhe fazer dar o valor que espero obter na minha obra, na minha pulseira cravejada de pedras falsas, e que somente você poderá validá-las. Me incomodo apenas com a perda da humildade, ou a inexistência dela. Teríamos de admitir tudo, porque quando não temos teatro, não o temos. É a única coisa que podemos ter certeza.
Não sei ainda se estou no lugar certo, não sei se nasci pra escrever, claro que não, eu nasci pra ser rico como todo mundo. Mas escolhi isso, não sei por que, não sei da onde, não sei quem me fez assim, não foram meus pais, eles queriam que eu tivesse uma vida mais fácil, sem sofrimento, sem noite perdida em frente ao computador, com finais de semana em família. Queriam que eu não fosse viciado em café, cigarro, até a cerveja do fim de semana os incomoda as vezes. O que mais me falam é: - Você deveria parar de sofrer tanto, ninguém vai perceber se você fizer assim ou assado... Será que eles possuem razão? Certamente não foi o teatro quem me escolheu, eu escolhi cada uma das minhas mazelas. Gosto delas.
Para escrever... Para fazer teatro... Eu estudo muito, estudo as pessoas, o que elas falam, estudo seus gestos, creio em suas histórias. Estudo teoria, do Teatro e da Arte. Leio filosofia, contos, sonetos e poemas. Crônicas belas e outras das mais absurdas. Procuro me conhecer, confesso que uma das tarefas mais difíceis. Me politizo. Converso com sábios. Leio. Compro livros ao invés de ir pra micareta. Então já sei pelo menos que não sou micareteiro, mas o que não me impossibilita de escrever sobre um, claro se a história dele foi boa, pois são milhares os que se gabam por terem beijado outras milhares em seus encontros baianos. Sou preconceituoso. Me apaixono por tipos, por alguns deles em especial, sou um pouco adepto a sexo eloqüente, tenho minhas preferências musicais duvidosas para os eruditos, gosto de ir ao museu e carregar um guardanapo com a Monalisa estampada, compro dvd pirata, furaria meus olhos se tivesse feito filhos em minha mãe, comeria terra se passasse fome, mataria uma velha para dela roubar água. Seria eu então um copiador, ladrão, preconceituoso, assassino, ourives, mentiroso, ninfo, incestuoso, déspota, pérfido, apaixonado, amante, micareteiro, burro? Prefiro pensar que sou um possibilitador, de tudo isso, de mostrar às pessoas esse mundo cheio de histórias, para fruírem e acreditar na mentira, minha e do Grupo Teatro Empório.
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